quarta-feira, 30 de julho de 2014

Vida viva!

Eu podia cansar de te ouvir, podia cansar de te ver. Mas não, ao contrário, esse cansaço nunca chega... Por isso, vida, compartilho minha felicidade ao te encontrar todos os dias!

Asas

Aquelas asas que caíram em mim me forçaram à mente fluidosa criativa em assombração. Me puxava para baixo como ímã gravitacional. Cada vez mais ao fundo. Me via inerte, vez saciada, vez em mãos penosas e vazias. Asas traidoras. Voava alto e longe, mas também baixo e dolorosamente, onde, sem elas, não me atrevia; e agora me corroía em sangue pecaminoso, sangue impuro em minhas penas. Asas traidoras, me deram tudo e não me deram nada.

Sonoridade noturna

O inverno passou por lá, trazendo consigo um róseo florescer; um denso no verde. Quando finalmente a menção da Lua transparece notas ao vento violeiro. Toca nota o frio inteiro.

Crua

Aquela inconstância me fez viva em carne, roída em osso pulverizado. Saída dura, precisa e precoce dessa casca protetora me fez sã, porém seca, apodrecida por dentro. Agora vil, perambulo fugindo de predadores e presas, me atirando ao desgosto e medo. Em costas frágeis, descubro que carregar a vida é um trabalho árduo. Dos olhos verdes me encontro um mofo provindo de lágrima e escorre ao peito que se desfaz. Ali uma pequena lagarta sonha crisálida para renascer em asas, borboleta em coração.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Um tiro

Sobe um cheiro vermelho de ferro nas mãos. É só então que interrompe a fuga inerte ao medo. Respira firme, o pensamento transpira sob a noite. Antes tosse seco, para, enfim, mergulhar profundamente em um mar rubro e sufocar em sua própria poça.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Transa típica

E ela me parecia respirar um tom quase ébrio, mordendo o frio por debaixo daqueles lençóis. E seu sorriso óbvio, no limiar de um soluço, embriagava-me. Ah, eu a amava! Seus olhos tons pastel me avisavam do amanhecer. Tua camisola acortinada sucumbia às minhas luzes que irradiavam seu corpo. Ah, como eu amei! Silenciosamente, foi estremecendo em mil prazeres; sóbria em paetês.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Sonho insônia

E bate aquela timidez de acordar, e bate fundo e forte um profundo suspirar. Percebe, então, que o dia não chegou, que o escuro ainda vive e sua espinha está vibrando em calafrios. Teme o frio, o breu, aquela ânsia em abrir os olhos e não conseguir mais fechá-los. Os problemas estouram em sua mente, as soluções se esvaem pelo ar. Imagens fétidas entoam medos. Esse medo de ficar. E o tempo não fala, não grita, não se move do lugar. O silêncio chiado do coração que pulsa cor dentro de si, fazendo-o sentir-se vivo, nostálgico. Finalmente encontra motivo para sonhar. E sonha alto, sonha leve, sem vontade de acordar.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Saudade

Nunca subestime a lágrima que percorre meu rubro rosto e se desmorona no branco leite da xícara; liquefazendo-se e confundindo-se com o pálido pensamento que sobrevoa diante de meus olhos.
Não chega a ser tristeza, melancolia tampouco. Mas funciona assim; eu sinto e acontece. Desfaço-me em pranto, de nostalgia, saudade. Falta vã. Mas repleta de amor.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Escamas do Mar

Imagino teu corpo meio a meio nadando em água e céu, com olhos cerúleos que sugam meus pensamentos e os liquefazem em um ardente sufoco. Suas notas musicais amaldiçoam e intensificam meu engasgo. A solidão parece ir embora e fica a melodia que asfixia, vou sorrindo e caindo na escuridão das águas tuas, preparando-me para sentir seus braços, ouvindo o som da morte; fazendo-me escamas do mar.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Sou

Sou assim tão sua, arrepiando lhe a face, de esmorecer o coração. Sou o vento que lhe acaricia o rosto enrijecido pela barba, arrancando os pelos, rejuvenescendo tua pele. Sou o tecido que te cobre em noite clara pela lua, nossas noites preferidas.

Sou flor despetalada que disfarça o mau cheiro podre.

Sou o primeiro feixe de luz que te acorda, enraizando seus pensamentos e acelerando sua alma. Sou aquela chuva que tanto gostavas de ouvir no telhado de vidro da estufa emornecida. Sou as estrelas que contávamos juntos; agora sou todo o universo.

Sou a corrente que lhe puxa ao chão, fazendo-lhe encurvar.

Sou a voz do mundo que sussurra em teu ouvido. O riso da criança que está sempre dentro de ti. Sou tudo o que você gostaria ou não; e toda alma que sempre sonhou em alçar voo. Sou tudo e mais um pouco. Não estou, mas eu sou por completo. Sou completamente sua.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Agora

E agora, somente agora, escorrem palavra pelos olhos meus, modificando transparentemente meu expressar. Todas as memórias me atravessam por inteiro, deixando-me aos pedaços. A cada uma, é uma migalha minha que cai e some nesse infinito incômodo, nesse vazio e etéreo ilusório de que lembranças são abraçáveis. Como isso despedaça a racionalidade e esvazia qualquer alegria. Como transforma o diamante em pedra maciça, rugosa, áspera, intragável. Ao cair na água se afoga e não acorda mais. Que vontade de ter o agora para sempre.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Iminência

Uivando com os lobos, descubro que lamentações me fazem sentir leveza. Assim, dançando com o vento, meu jeito torto de andar desaparece. É no escuro em que as lamparinas empalidecem. Transformo-me no monstro que sempre temi, sugando a vida à minha volta.
Sonhando sonhos de outrora, minha alma se entrega à lua, meu corpo tropeça ao chão. De repente reparo a solidão e descubro que a morte é iminente. Ela se agarra às costelas, me deixando acorcundada e, a cada dia, arranca um pedaço do que sou.
Por pura alomorfia estou lobisomem e ela não me alcança. A iminência é eterna em mim.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Desgraçado

E a dor da vida que pariu um choro irrecusável de carinho já denega o sopro que o criou. Assim começou sua vida. Seus primeiros gritos nunca foram escutados, mas jamais se abateu com isso. Rompeu seu medo da solidão e seguiu a vida com um coração de lâmina incandescente. Quando o menor dos seres se aproximou, o fez cair fundo em um breu sem volta. E sua solidão prosperava junto com sua ignorância.
Todos os dias de manhã sentia o suplício do ar que respirava, sem pena tossia a merda que ainda o deixava vivo, arfando. Pouco sabia de sua queda, sem asas para abraçá-lo, quebrar-se-ia ao chegar ao chão. Triste, quando chorava, vinha a dúvida perpassando seu espírito e o silêncio penetrava qualquer sombra no interior. A vida parecia não convidá-lo, não apreciá-lo, tão pouco fasciná-lo.
No meio da noite, a terra parecia envolvê-lo sem permitir qualquer murmúrio. Nada o deixava sonhar, voar, dançar junto aos anjos. Permitia sua queda, cada vez mais profunda. Todas as portas trancadas por fora, sem chave alguma, sem liberdade.
Suas pernas se esticavam, as rugas cada vez mais visíveis, mas, internamente, nada esclarecia a covardia de se arremessar para o fundo; e ao mesmo tempo a coragem inexplicável para fingir que a dor não subsistia. Seus passos, mais largos e corridos, apressados, querendo chegar logo ao fim do caminho, dissecavam as poucas gramíneas que ainda existiam naquele solo quase infértil, fétido.
Quando crescido, a loucura subjugou sua mente. De todos os pensamentos havia um escondido que pedia sanidade. Seu corpo desnutrido nada mais pedia. Desistiu quando, por um pequeno instante, lhe pareceu são; o suficiente para se ver morto, com os pulsos ainda maculados em sangue.
Nunca ninguém ousou culpá-lo por isso, pois seu corpo ainda está lá, intacto. Os vermes tem medo de putrefazê-lo.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Insônia

Percebe a lua que ri e não se mostra toda, se revelando apenas no etéreo. Música sã no quarto, pensamento insano na mente, corpo na varanda e espírito a vagar.
O mundo parece desfalecido, até morto, em um silêncio perceptível. Apenas grilos sussurrante e árvores mudas ao vento. Apesar disso, sabe da vida que acontece dentro das janelas, por detrás das portas, debaixo das cobertas. Mas tudo trancado, escondido, demonstrando um ínfimo medo de escuro, medo do fim do mundo.
Nada irá sumir, ao contrário, tudo espera o momento certo de reaparecer; junto à grande estrela que brilha e aquece e traz sorrisos, esperança. Mas agora não, demora um tempo; é preciso descansar primeiro e esperar que as mãos das fadas toquem os sonhos das crianças novamente. Dá tempo para mais uma chícara de café.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Aprendendo a envelhecer

Sentindo-se torta de corpo e alma. Certo e errado já passaram e agora só me serve um talvez incerto de tudo o que se entende, afinal, o a partir daqui é desconhecido por todos. Olha bem para mim e chore nos meus olhos, pois o tempo não costuma nos dar segunda chance ou nos devolver um instante apenas a fim de arrancar da carne a falta da carne que não abraça mais. Sinta-se bem, agora que não terei tempo de secar olho algum antes de deixar a lágrima escorrer. Arrepende-se? Não mais, por favor. Deixe-me em paz. Deixe-me ir em paz. Obrigada.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Fantasmas

Se um dia pareci fraca, foi por coragem de largar o que amava para evitar destroços e desastres maiores; basto eu. Que esses fantasmas saiam do meu quarto. Fantasmas saiam do meu travesseiro!
As vozes me sussurrando: não chore em silêncio, não viva nesse segredo; vá até a janela e grite para o ar e se desfaça em choro para o mundo!
A garganta já seca pede água.
Se um dia pareceu que a covardia transbordava por ter me cortado as cordas que me seguravam em pé, não te culpo; não me surpreendo mais com ninguém.
Além de tudo, de surpresa, tento cair em um mar de lágrimas a fim de não quebrar meu vestido de porcelana e não ficar completamente nua; completamente só.
Que esses fantasmas me confortem afinal.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Catarse Musical

Cada nota musical é uma letra que ressoa na mente como imagem obscura. Arrepia toda alma a voz que canta o desconhecido e encanta a realidade. Subverte cada segundo da vida em mistérios inaceitáveis e incompreensíveis para cada um.
A vontade de que o momento de catarse acabe se confunde com a leveza trazida do surreal que nos aconchega em nós mesmos.
A frieza do que vem de fora assusta e desafina e arrebata o maravilhoso, fazendo-o engasgar com o súbito retorno à realidade.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Detalhe

Ontem apareceu uma sombra sobre o sol, mas nem por isso desistiu de sair com um detalhe na cara. Esqueceu-se da mala, do sapato, de pentear o cabelo. Mas não se esqueceu de um detalhe na cara. Não tinha objetivo de chegar a lugar algum, nem encontrar pessoa qualquer, tampouco com hora no pulso e coração, mas consigo, um detalhe na cara.


Logo após, a chuva se sentia merecida. E ele continuava sem a mala, sem sapato, com bagunça no cabelo molhado e objetivo...? Não se soube ao certo, mas permanecia aquele detalhe na cara.

Disse que amou, mas também fingiu. Disse que perdoou, mas também mentiu. Disse muitas asneiras, piadas e cansou. Calou, mas com grande detalhe na cara.

Foi o que viram e me contaram. Disseram ter certeza que não volta mais, porém foi embora com um belo sorriso.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Em pedras escrever com aço
Com ideias ficareis em vão
Amor que transcende um traço
Com destino, caminho iniciante,
No passo à morte inevitável
Levar consigo, (en)fim errante
Traço em flecha coração.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Ato final

Rubras finas fitas presas em embaralhadas situações. Começa-se o passe de inverter realidades e reverter alucinações. Como mágica. Colarinho franzido, apertado em gotas de suor. Mistura-se um toque de aflição e olhares atentos, surpresos; amedrontando todos eles. Mas as fitas serão bravas em uma só. Desassossegado passo irrompe em murmúrios. Nenhuma carta na manga. Atenção para o passe; como mágica. Atenção para o passo; para o pulo. Como um passe de mágica, o suicídio.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Bolha de Sabão

Pode ser pequena ou do tamanho que for, mas jamais esconde tal fragilidade. Delimita um arco-íris que suspira em desejos de criança. Trapaceia quando se mostra tão liquefeita e faz piadas para ver os outros com cara de bobo, surpreendende a todos com suas peraltices. Bolha de sabão vem de tantos outros lugares, mas a que está aqui guarda uma fortuna de carinho e alegria que não se pode nem contar para caber em um mundo só. Deve-se aproveitá-la bem, pois quando menos se espera ou deseja ela se escapole em milhões de partículas desunidas e se esvai como um sonho.

domingo, 5 de setembro de 2010

Perturbação

Mal cheguei a casa e debrucei-me em nossa cama, repleta de colchas e vazia em alma. Descobri que tudo estava faltando, compadecia de carência tua. Existem muitos fatos e objetos dessa casa que me recordam de ti, me emudecem por completo.

Lembrando de como deitavas todo emaranhado em lençóis, com uma beleza estonteante como um desenho feito à mão; colorido cuidadosamente, sem dar lugar ao pincel escorregando em falhas. Perfeição.

Abraçando seu travesseiro para tentar te sentir mais de perto, mais aqui; quem sabe me abraçasses também - nada percebi. Absorvi teu perfume incrustado nas almofadas. Chorei.

O feixe de luz da janela me despertou para frases ditas e músicas assobiadas por ti em tons desafinados. Percebi que minhas chances de te mostrar a vida não perduram mais nem um instante. O tempo faz peraltices confusas.

Deixei a fraqueza subjugar meu corpo por completo, fui transbordando de pensamentos em arritmia cronológica mesclado com ilusões fanáticas a fim de encontrar uma solução para aquela patologia da alma: a saudade. Precisamente ali permaneci até repousar em sonhos catárticos. Preciso me reerguer.

domingo, 29 de agosto de 2010

Ao Fim do Dia

Chegando a casa, já noite caída e mal-tratada pelo barulho da cidade. Então, concluído o cansaço de ver o dia passando, escolho parar e sentir tudo, ouvir e ver qualquer estilhaço da presença da vida do lado de fora.
Escuto atentamente e percebo que ainda há gente voltando e indo para lugares pertinentes à sua própria existência, pois lá fora o ônibus reclama, engasga até respirar fundo para mais uma engasgada gostosa.
Ainda com minha audição, compreendo que, mesmo aqui na cidade, os animais parecem mais persistentes do que realmente são: corujas, diminutos morcegos e infinitos grilos incansáveis. As noites são mesmo assim.
Da janela a noite existe muito mais intensamente; fresca, serena e calma. Nem muitas estrelas, nem muito céu; porém infindáveis estruturas construídas a fim de perturbar nossas vistas.
O sono já alcançando minha memória, principio a divagar em catarse passageira. Músicas antigas chegam sem motivo nenhum, muito menos com ritmo reconhecível ou palavras cognoscíveis; cantarolo mesmo assim.
Um zumbido de pensamentos quase em ziguezague estabelecem um elo entre o passado e o presente. O futuro aparece como um pedido de explicações plausíveis. Tudo vai soando nebuloso; graças a mais um dia que chegou ao fim, finalmente, e terminou bem. O sonho se esconde em meio à neblina e durmo exatamente ali, no sofá. Todas as noites são mesmo assim.

sábado, 3 de julho de 2010

Só, em casa

E saber que ali já se notou cena mais extraordinária. Momento que me faz analisar cada instante minuciosamente de maneira tão inútil e incontestável.
E rever cenas que nem mesmo presenciei, imaginando o nada passando diante de meus olhos. Sentir lá no fundo aquele tédio amargurado o qual irrita minha mente de maneira sufocante.
E reparar que essa casa, quando erma, me tortura; e me massacra, lembrando a angústia de viver só. É penoso andar pelo corredor que mais parece respirar todo meu ar. Escadas rangendo melancolia, suplicando serem pisadas. Aflição das paredes por não receberem carícias de ninguém mais que um pincel de tinta. Lampiões bruxuleando em sua fraqueza existente. E da janela só o vento que me corrói a pele, exalando gélido aroma murmurante.
E cair na necessidade de me esquivar, mas a loucura de me manter ali é mais intensa. Loucura crescente, que me conquista, transcende a racionalidade e me mostra o surreal de maneira fétida e desgraçada. Miserável e caótica. Abate-me, putrefazendo-me dolorosamente.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Renúncia

Sensação de ruir.
Destruir.
Parece tudo estar caindo.
Pereço estar caindo.
Um tropeço a cada passo,
Respiração não alcança,
Sono não descansa.
Cansaço.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Da janela do carro

Bisbilhotando pela janela, verifico que o carro está calmo. Deslizando pelo asfalto dessa avenida, sentindo nos pés os buracos e no rosto o vento da noite. Cada quilômetro um pensamento brota e morre como quem faz uma curva. Do retrovisor o mundo fica ao contrário e fica confuso, e fica patético. Trocando de plano, assisto as luzinhas da cidade lá no fundo da paisagem; todas elas fingem serem estrelas no chão, caídas do céu. Daqui, as árvores passam depressa, produzindo um zunido ilusório de velocidade. Lá na frente vejo somente o limite luminoso dos faroletes dessa carcaça motorizada. Por fim o céu. Visto de onde estou pouco muda, mas faz todo sentido pensar que ele se transforma silenciosamente, mudo; porém, na companhia de todo o universo. Aqui do lado de dentro uma monotonia deslumbrante, acompanhada de música norte-americana, que me faz ir alto e longe mesmo estando tão perto do chão e de coisas que me alcançam.

E mais a frente outra curva morre...!

domingo, 16 de maio de 2010

Nariz de Palhaço

Jeito bom. Parece estranho, mas faz tão bem. De longe nem se nota e de costas alguém completamente normal. Porém, assim de frente, tudo se descobre, transparece; transcende.

Daí nasce o novo que não pede passado e não padece. Novo que transforma a visão da realidade e cria um universo próprio, subverte. E cresce a ingenuidade passiva, passível de ignorância e felicidade; possível.

Graças ao meu nariz de palhaço.

Sonhando com a vida e vivendo através dos sonhos. Sonho de criança que soa meândrico, mas não é. Enlouquece. Tem sentido e não segue direção alguma, mas mostra sentimento; permanece.

Não tem razão de ser e existe mesmo assim. Só encontra objetivo no que está ali, distorcido; mas ali. Encontra-se onde se vê, existe no presente e não pensa no depois; resiste.

Graças ao meu nariz de palhaço.

Sensibilidade à flor da pele e uma pequena flor na cabeça. Peso equilibrando momentos que oscilam entre alegrias e tristezas sem nem mesmo perceber. Sem se corroer, porque se for para sentir, sinta com pureza; sinta de verdade para ficar e marcar apenas o tempo definitivamente; destreza.

Força provém do carinho. Disposição, em cada abraço. Estímulo alcançado em todos os sorrisos e todas as gargalhadas.

Graças ao meu ser palhaço!

sexta-feira, 19 de março de 2010

O que importa

Eu voltei até lá. Lá mesmo, aonde nós íamos. No meio do parque. E sentei naquele banco, frouxo em seus parafusos e assim como você, quase caí no chão. Foram boas risadas. E para outros, sozinha daquele jeito, parecia uma louca (de fato não sou tão assim). Bons tempos para perder à toa, sem fazer nada. Cochichar sem medo e gargalhar em alto e bom som. E de baixo daquela árvore, contar quantas folhas pousavam em nossos narizes. O outono é mesmo uma graça!
E lá sozinha, me encontrei de olhos fechados, bem fechados para as imagens na minha cabeça não escaparem de jeito nenhum. Via-te correndo atrás do vendedor de algodão-doce e voltando cantarolando notas musicais aleatórias, segurando uma enorme nuvem rosa e açucarada em uma das mãos.
Ainda só, me deparei com o vento que me levava mais afundo na memória. Vivendo dentro do espírito que presenciou aquele momento. Abraçando um belíssimo por do Sol, teu rosto ficara ligeiramente avermelhado. No contraponto da imensidão já aparecia uma dona Lua, assemelhando-se a uma fruta alaranjada. E ficamos nessa, brincando de ver as cores lá no alto; como mudavam depressa.
Um acontecimento memorável quando falara que havia uma flor em meus cabelos. Na surpresa, a flor voara, mostrando ser uma linda borboleta amarela. E lá me foi uma curiosidade indescritível de ir atrás dela como se pudesse mesmo alcançá-la, na esperança de voar junto a ela. Bobagem minha. Já estava no céu e não me dava conta.
O frio chegara depressa por demais. Encolhi-me ali mesmo, ao teu lado. Minha mania de não trazer agasalho. Então a decisão que o dia estava mesmo indo embora, como se tempo algum tivesse passado. Agora já é passado. Pena que não durou para sempre...
Ao acordar do meu devaneio, senti uma gota no meu rosto (e motivo nenhum tinha para chorar); estava chovendo. Já estava encharcada e de nada valeria sair dali correndo. Mas sabia que esse dia também já havia terminado e levantei calmamente para não quase cair novamente, fui embora sem pressa e sem medo de pegar um resfriado. Apesar de tudo; de toda aquela saudade, estava bem; e satisfeita, pois sabia e ainda sei que você está feliz. Isso é o que realmente importa!

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Vida anda

Minha vida anda meio errada;

De vez em quando de lado, de costas.

Às vezes uma pirueta aqui, uma cambalhota ali;

Quando de frente, ela manca.


E aprendi que a vida é assim mesmo. Preciso de uma bengala.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Tempo é Fato!

Tempo é tempo desde que eu me conheço por gente. Às vezes passa tão rápido. Outras já não; parece que tudo pára e nunca mais se sucederá algo. Tem vezes que o tempo passa tão depressa por tanto tempo e de repente pára que chega assusta. Esse momento é estranhamente notado pelas rugas. Para alguns, minutos parecem horas. Já outros dizem que as horas foram alguns segundos. Há aqueles que preferem não dizer, mas suas olheiras profundas e escuras trasparecem o quão difícil o tempo lhe parece. E quando se vê pessoas por aí matando o tempo com total entusiasmo? (Estranho).

Aprendi que o nunca é tempo demais, assim como o para sempre e sei que eles não andam juntos jamais. Por ser tanto tempo e tão nunca que se chega, para sempre que eu não irei usar essas duas palavras com descuido.

(...)

Pois nós envelhecemos, criamos rugas.

Rugas o tempo marcou de vez. Vez é quando que tem hora certa. Quando é onde o tempo parou para olhar o caminho. Parar de vez é algo inevitável no final das contas, mas impossível de fazê-lo agora. Agora é o momento que não cessa jamais. Jamais é o passado e presente que não tem futuro. E o futuro é o sempre e o nunca juntos, em dúvida da existência. Continuamos a envelhecer.

Contudo, tenho certeza que o tempo é o mesmo para todos, apesar de passar por momentos de discordância de tal fato. É fato e ponto final.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Que venha a ressaca

Penso como todos aqueles anos me foram roubados naquele único minuto. Sem sentir aquela acidez gotejando em minha garganta com uma sutileza dolorosa aos ouvidos próximos. E naqueles sessenta segundos tudo definhou de vez.

O que sinto e sei nunca é o que realmente pretendo mostrar e acabo me surpreendendo com meus encontros em cada livro que leio em meus momentos anti-heróis.

Com tanto para ver e tanto para acreditar me repreendo aqui e agora, bebendo algo que nem sei ao certo o que é, a fim de tentar esquecer e ser esquecido. Tornando-me esquecível, então.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Lembranças Recentes do Amanhã

Mais adiante, nem pensará que hoje se importa com isso. Esquecer-se-á do essencial do hoje e até mesmo do ontem que no amanhã será muito mais esquecido. E infelizmente não fará a menor diferença. Ou talvez felizmente, pois se a lembrança traz tanta saudade é melhor que ela fique escondida. Não que a saudade seja ruim, mas quando não podemos recuperar o perdido fica difícil de não ver melancolia.
Esquecer-se-á da existência de alguém que te abraçou hoje; alguém com quem provavelmente você não partilhará seu amanhã. Não se lembrará também que existiu alguém que te carregou quando não podia andar; pessoa essa que cá ou lá pode não mais existir no seu hoje ou amanhã.
Aquela música que te faz lembrar algo que aconteceu, situações e situações as quais irão se esvair em sua mente, aos poucos vai perdendo melodia e seu tom ideal. Assim como um perfume que te mantém em nostalgia passa a ser mais um profundo respirar despercebido depois que a vida já correu.
As rugas da pele vão aparecendo e não vão escondendo tudo o que se viveu. Porém, talvez por um bem maior, a mente vai padecendo e vai ocultando tudo o que já percebeu.
E, em um último instante de reflexão, me ponho a pensar se esse jogo é proposital.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Dança

Se deixe levar
Fico desajeitada
Fique leve
Me leve então
Está sentindo?
Estou voando?
Não, você está dançando.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Sinestesia de Palavras

Às vezes prefiro fechar meus olhos e mantê-los assim para não me deparar com que não quero, vivendo vendo apenas minhas fantasias do meu mundo.
Às vezes prefiro ficar surda e viver em meu silêncio. Nenhum grito me tira a paz. Nenhum ruído me arruína mais.
Às vezes prefiro não dizer nada. Ficar muda não me muda mais. Ninguém me escuta; berro sozinha, mas berro calada.
Às vezes preciso não sentir coisa alguma. Mas não sentir acaba não fazendo sentido. Mas acaba com a gente.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

E tudo seguiu adiante

E então me fiz herói. Um dia desses, só pra ver como era sentir o grande mundo, pequeno outra vez, e não me sentir insignificante diante dele. Caminhei em passos largos, por cima de prédio e construções sem vida alguma. Carreguei cidades e alegrias em meus ombros por distâncias quilometradas bem servidas. Gastei sorrisos com pessoas que nem ao menos conhecia. Por muitas vezes senti na pele a sinestesia inexistente em carne humana. E por fim senti falta de poder sangrar às vezes. E então me fiz humano. Um dia desses, só pra ver como era sentir o grande mundo, grande novamente...

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Aquele Mundo

Nesse mundo, transparentemente lúcido e ridiculamente ínfimo perto de outras infinidades de coisas.
Branco e preto para qualquer outra pessoa. Mas daqui é tudo cuidadosamente colorido e nítido com cores que nem mesmo se conhece a origem.
Aplausos recebem aqueles que tropeçam com destreza.
O tempo aqui corre, deixando qualquer um para trás, quando na realidade eu mesma ando junto dele sempre, esmiuçando-o cada milésimo de segundo.
A cada amanhecer um sonho é transformado em uma nova aventura.
Aplausos recebem aqueles que caem gargalhando.
Um som, por mais estranho que pareça, não passa de uma nota musical. Que bonita música!
O bocejo de preguiça faz restabelecer risadas passadas que se foram e ficaram ecoadas nos ouvidos calados e atentos.
Aplausos recebem aqueles que aplaudem.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Uma vida inteira. Um dia inteiro!

De manhã, aquela força. Todas aquelas ideias arranjam um meio para se porem em prática, mesmo que soem impossíveis. Aquele cheirinho inconfundível de algo que não conseguimos nem descrever, nem mesmo nomear. Momento esse os quais passamos sempre e nem nos damos conta de como é importante para nos manter de pé durante mais um dia de nossas longas vidas.
Minutos passam e preguiças ficam na cama rolando enquanto a força da manhã te ergue para seguir o seu dia. Um passo. Depois outro.
Passa uma pessoa e com ela um sorriso. Bom dia! Palavras soltas, mas nem um pouco vazias. Troca de frases, idéias e sonhos. A satisfação de uma boa conversa passa pela porta de casa e pelo jardim. Passa pelos vizinhos e pela vizinhança e de repente se esvai...
Uma cena lamentável a apaga de sua memória. Apenas mais uma de tantas outras que já presenciou semana passada e a anterior e a anterior...
Mas nada tem a fazer a respeito. Nada tem a ver com sua vida. Seguir em frente não é sempre a solução?! Pois bem! Continuemos o dia.
Aquelas idéias de manhã vêm de passagem. Rapidamente, agora já bem turvas, já quase sem rumo. Pena. Tinha planos tão bons.
Com o passar das horas o cansaço vem chegando de maneira gostosa, mas nem tão bem-vindo quando se tem tanta coisa para fazer; tanto trabalho para por em prática, tanta idéia para ter, tanto neurônio para fritar. Aquelas palavras, já não soltas, bem firmes por sinal, passam a ser vazias e sem significado algum. Situação que irrita. Progride. Transparece. Desisto!
Aos longos passos, não olha para nada, nem para ninguém. Quer chegar logo em casa e se ver livre do mundo. Farto de ver vizinhos, vizinhança e seres inanimados.
Um longo dia. Agora em casa. O que fazer? Nada cultural na Televisão. Leu todos os livros da estante. Não vai ligar para ninguém. Não quer falar com ninguém, nem com você mesmo. Não quer se olhar no espelho. Que preguiça de viver... Boa noite!

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Quimera

Desse meu jeito meândrico de ser, conto minhas anedotas em certa alomorfia temporal, sem o planejamento de me tornar uma sinalefista.
Em um sorriso que vislumbrei naquele rosto avelhado era de tal forma de tom ebúrneo que transparecia a ínfima candura de alguém já tão velhado.
E, por fim, levou-me a um sonho inefável, gotado por apenas uma lágrima dividida, provocando um diorama fascinante que se definha aos poucos como o bruxulear de uma vela acesa.
Pararei, então, nessa conjuntura, com essa litania melodiosa sem mi suave ou dó menor.
Quem diria agora que voltaria a um devoluto único do meu âmago lúgubre e torvo sem a vontade mínima de transformar meus dias desolados em um vão idílio.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Psicopata

Imprevisibilidade é a minha vida; minha alma.
Cometer atos horrendos incompreendidos. Impensáveis. Elaborados cuidadosamente por uma mente psicopata.
Tenho a todos e não tenho a ninguém. Berro sozinho e berro calado, com uma violência tortuosa, com a necessidade de viver isolado do mundo, no mundo e com o mundo.
A sociedade ignora, não olha para mim da maneira que preciso. Esses olhares desprezíveis, inoportunos, infiéis.
Não tenho a intenção de lhe fazer mal, mas se o fiz não me arrependo e acabo sofrendo consequências que, para mim, são entrelaçadas com minha própria loucura.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Cambalhotas

Os dias vão passando e vamos aprendendo coisas novas.
Pensamentos que nunca tinhamos tido antes, voltam-se de repente para você e se tornam o motivo mais importante pra se viver!
Pessoas que são tudo pra você, por agum motivo, depois de um simples segundo, vão embora sem olhar pra trás e nunca mais voltam.
Dias em que está sozinho, pensando mesmo estar sozinho não querendo estar, descobre realmente que não está.
Motivos que davam força para se levantar depois de um tombo feio por conta dos problemas da vida te fazem ver que a queda não passou de uma linda cambalhota que por momentos te deixou tonto e confuso, mas quando se levanta você está lá, de pé; todos te aplaudindo e apreciando sua arte.
Acontecimentos momentâneos que te fazem pensar em tudo vivido até então e que te fazem ser sincero consigo mesmo o resto da vida e te ensinam que um segundo a mais é um segundo a menos.
Momentos que te fazem querer tua vida durando pra sempre , mesmo sabendo: a vida é tão curta que não dá tempo de perceber que o tanto que aprendeu acabou por lhe servir para ver todas as nossas escolhas. E uma delas é a de ser feliz!

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Ontem e Hoje

Você ainda me gosta como ontem? Não sei. Nada fiz, mas faz um tempo que não nos vemos. E sabe, o tempo faz coisas. Muda as pessoas. Quero te falar que tua voz soa diferente hoje. As horas podem ter confundido minha cabeça e me feito esquecer de como realmente é tua voz. Nunca saberemos ao certo. O tempo já passou, afinal. Me responda, então: ainda me gosta como ontem?

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Um novo

Donde vem seu dom de achar histórias em constelações e essa imaginação que te faz encontrar lugares únicos e tão longes que ninguém mais encontra? Ensina-me a ser assim para poder correr mais longe, quando precisar fingir, fugir. Mostra-me seus novos universos que poucos acreditam. E por favor, se eu não acreditar, acredite por mim!

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Passado

Bailarina dançando no canto do quarto, com olhar profundo e sorriso passado; pensado. Mesmo assim voava com destreza e simplicidade. E na estante a caixinha de música ecoava risadas infantis como se viessem lá do quintal. O frio chegava e a ponta esticava atenta ao equilíbrio. Sapatilha presa aos laços de quimera. Tudo para querer ser já quisera. Então, partido esse sonho já tão cansado, agora acorda com tanta indignação e saudade. Pena que já passou por essa dança.

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Meu Abrigo

Em meu jogo de escrever coisa com nada e nada com coisa me obrigo.

Em meu abrigo!